CODINOME DANIEL

(Crédito: Ale Catan)


Conhecido por dar voz a grupos minoritários e por sua pesquisa sobre o modo brasileiro de se fazer Teatro Musical, o Núcleo Experimental homenageia em seu novo trabalho o jornalista Hebert Daniel (1946-1992), ativista e ativista LGBTQIAPN+ e na luta pelo direito das pessoas com HIV/Aids. “CODINOME DANIEL” estreia no dia 12 de janeiro na sede do grupo na Barra Funda.

O trabalho tem direção, dramaturgia e letras de Zé Henrique de Paula e música original e direção musical de Fernanda Maia. Já o elenco traz Davi Tápias, Luciana Ramanzini, Fabiano Augusto, André Loddi, Lola Fanucchi, Cleomácio Inácio, Renato Caetano e Paulo Viel.

Pretendemos levar ao público a vida e a obra, ainda muito desconhecida, do jornalista e escritor Herbert Daniel, um revolucionário gay que desafiou tanto a ditadura de direita quanto os setores da esquerda que reproduziam a homofobia e a heteronormatividade”, comenta Zé Henrique de Paula.

Um dos elementos de frente da luta armada, Hebert se exilou em Portugal e na França, onde contraiu HIV, foi o último dos anistiados e, uma vez de volta ao Brasil, tornou-se um ativista fundamental na luta pelos direitos das pessoas vivendo com HIV/Aids. Sua importância se deve ainda ao fato de ter sido o fundador do grupo de apoio Pela VIDDA e um dos fundadores do Partido Verde

Atuou pelos direitos da população LGBTQIAPN+, das mulheres, dos negros, além de ativista ambiental. Herbert morreu em 1992 devido a complicações causadas pela AIDS.

Acreditamos que o teatro – uma das primeiras paixões de Herbert Daniel em sua juventude (ele foi também dramaturgo) – pode ser uma ferramenta poderosa no sentido de reacender uma luz sobre essa figura menosprezada da história do movimento LGBTQIAPN+ no Brasil recente. Afinal, sendo a memória uma construção social, a peça ajuda a colaborar para que minorias possam entrar em contato com o inventário da luta pela democracia, diversidade e justiça social”, acrescenta o diretor.

Codinome Daniel é a terceira parte do que o grupo chama de Uma Trilogia Para a Vida, junto com os espetáculos Lembro Todo Dia de Você e Brenda Lee e o Palácio das Princesas. Como fio condutor das três peças está um conjunto de discussões e pontos de vista a respeito da questão do HIV/Aids no Brasil, da década de 80 aos dias de hoje.

A figura de Herbert Eustáquio de Carvalho, nome de batismo do homenageado, é uma das mais esquecidas da nossa história recente, especialmente quando se leva em conta sua importância na luta pelo movimento gay e pelo ativismo em prol da democracia durante a ditadura no Brasil. Herbert foi um elemento importante na luta armada contra a ditadura de 1964 e no processo de redemocratização do Brasil. 

Estudante de medicina na UFMG, engajou-se em grupos guerrilheiros ainda no final da década de 1960. Esteve na linha de frente de assaltos a bancos e dos sequestros de diplomatas estrangeiros que garantiram a soltura de mais de uma centena de presos políticos que corriam risco de morte. 

Na militância clandestina, ele descobriu e assumiu sua homossexualidade. De um lado, encontrava-se acossado pela violência de uma ditadura moralizante e LGBTfóbica; do outro, não era aceito por parte dos seus companheiros de guerrilha. Para muitos setores das esquerdas naquele momento, a homossexualidade era vista como um desvio pequeno-burguês, uma degeneração, uma fraqueza moral, um desbunde de minorias improdutivas, em suma, um “pequeno drama da humanidade” que dividiria a “luta maior”.

Herbert teve, então, que “esquecer sua homossexualidade” para “fazer a revolução”. Tanto se dedicou que seu rosto chegou a estampar os cartazes dos “subversivos” mais procurados pelo regime autoritário. No entanto, mesmo com o cerco crescente e o extermínio físico da luta armada, ele conseguiu escapar da prisão e das torturas, exilando-se em 1974 em Portugal e, depois, na França. No exterior, contraiu HIV e tornou-se, ao retornar ao Brasil como o último dos anistiados, um ativista fundamental pelos direitos das pessoas vivendo com HIV e AIDS. 

Morto em 1992, Herbert foi um revolucionário gay que desafiou tanto a ditadura de direita quanto setores de esquerda que reproduziam a heteronormatividade. 

Foi o responsável também pela criação da Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da AIDS, que estruturou o discurso em relação à epidemia, além de cunhar o conceito de “morte civil” – referindo-se à condição de pária em que a pessoa com HIV é colocada, uma espécie de morte social antes da morte física – mostrando que não se trata apenas de uma questão de saúde, mas também sexual, social, econômica e de direitos humanos.

“Ele trouxe ideias revolucionárias para enfrentar a doença e o preconceito social, e elas ainda são válidas até hoje, como a ideia de solidariedade no combate à epidemia”, afirma o historiador e brasilianista norte-americano James Green, que lançou uma biografia de Daniel em 2018 (“Revolucionário e Gay: A Extraordinária Vida de Herbert Daniel”), “Ele era muito corajoso, foi uma das primeiras pessoas conhecidas a assumir ser gay e soropositivo”. A biografia escrita por Green é a grande fonte de inspiração para a dramaturgia de Codinome Daniel.

Este projeto foi contemplado na 40a. edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo.

ELENCO

Davi Tápias – Hebert Daniel
Luciana Ramanzini –
Geny (mãe de Hebert) e Wanda (Dilma Rousseff)
Fabiano Augusto –
James Green
André Loddi –
Cláudio (companheiro de Hebert)
Lola Fanucchi –
amiga de Hebert e Iara Iavelberg
Cleomácio Inácio –
Hamilton (irmão mais velho de Hebert), Carlos Lamarca e João
Renato Caetano –
Geraldo (pai de Hebert)
Paulo Viel
– Hélder (irmão mais novo de Hebert) e Celso Curi
Pedro Silveira *(substitui Cleomácio de 23/02 a 31/03)

MÚSICOS

Abner Paul – bateria
Clara Bastos – baixo
Felipe Parisi – cello
Flávio Rubens – flauta
Guilherme Gila – teclado
Lucas Bracco – baixo
Marco Rochael – flauta
Pedro Macedo – baixo
Rafael Lourenço – bateria

CRIATIVOS

Dramaturgia e Letras: Zé Henrique de Paula
Música Original: Fernanda Maia
Direção: Zé Henrique de Paula
Direção Musical: Fernanda Maia
Assistência de Direção Musical: Guilherme Gila
Assistência de Direção: Rodrigo Caetano
Cenografia: César Costa
Figurinos: Úga Agú e Zé Henrique de Paula
Iluminação: Fran Barros
Desenho de Som: João Baracho
Preparação de Elenco: Inês Aranha
Visagismo: Dhiego D’urso
Cenotécnica: Jhonatta Moura
Produção: Laura Sciulli
Assistência de Produção: Cauã Stevaux
Fotos: Ale Catan
Design Gráfico: Laerte Késsimos
Textos para Programa: Isa Leite
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Redes Sociais: 1812 Comunica
Estagiários: Mafê Alcântara (direção), Victor Lima (produção), Verena Lopez (som), Luis Henrique (luz), Pedro Bezerra (cenografia) e Jupiter Kohn (figurino)

TEMPORADA: De 12 de janeiro a 07 de abril de 2024
LOCAL: Teatro do Núcleo Experimental – Rua Barra Funda, 637, Barra Funda
DIAS e HORÁRIOS: Sex, Sáb e Seg às 21h | Dom às 19h
CLASSIFICAÇÃO: 12 anos
DURAÇÃO: 120 minutos (com intervalo)
INSTAGRAM: @nucleoexp

INGRESSOS (on-line com taxa): sympla.com.br
VALORES: R$ 40 (inteira) + R$ 4 (taxa) | R$20 (meia-entrada) + R$ 2,50 (taxa)

PROGRAMA ON-LINE:

Deixe um comentário