NOSSOS OSSOS

(Crédito: Camila Picolo)

 “Nossos Ossos”, do romance homônimo de Marcelino Freire, reestreou dia 08 de setembro no Espaço Cia. da Revista. A segunda peça “Tatuagem”, versão teatral do filme de Hilton Lacerda, esteve em cartaz com grande sucesso em 2022. O terceiro espetáculo fechará a trilogia comemorativa de 25 anos da Cia., ainda em definição, para 2024.

Em Nossos Ossos, a Cia partiu do primeiro romance do premiado autor pernambucano radicado em São Paulo Marcelino Freire para a construção do espetáculo, a partir de linguagens múltiplas, como a música (em forma de texto cantado), cenas visuais que contam a história potencializando o discurso da fala, o teatro gestual como dramaturgia do corpo, e assim por diante. A peça tem dramaturgia de Daniel Veiga (paulistano) e música original de Isabela Moraes (pernambucana). Os figurinos levam assinatura de Marcos Valadão, luz de Gabriele Souza, direção musical e arranjos de Marco França. O elenco é composto por seis atores: Vitor Vieira, Leandra Gitana, Evas Carretero, Demian Pinto, João Victor Silva e Edu Rosa.

A história acompanha a saga do dramaturgo premiado Heleno para fazer as honras fúnebres a um garoto de programa, Cícero, brutalmente assassinado nas ruas de São Paulo. 

A proposta da dramaturgia é reforçar o caráter poético da obra de Marcelino Freire no palco, aproximando-a da realidade nua das sombras da noite paulistana. Uma proposta atemporal, que reúne personagens da década de 80 até hoje, num povoado de seres que habitam e habitaram nossas ruas, pessoas à beira da marginalização e da violência que assombra a cidade. Daniel Veiga explorou esse submundo, colocando em discussão as relações de caráter público e privado, onde a rua torna-se casa e local de trabalho; onde a vida torna-se parceira da morte a cada instante; onde a poesia da tragédia torna-se ação dramática e nos faz pensar. A ideia de capítulos nomeados como partes do corpo humano – sugerindo uma autópsia – presente no livro foi mantida como quadros do espetáculo, ressignificando a ideia em cenas do corpo humano de acordo com o conceito de cada bloco.

Nossos Ossos é significativo pois discute vários pontos a partir da existência humana, no caráter social, moral e político: a solidão, a falta de oportunidades, a arte, as relações não aprofundadas, a desigualdade; num mundo onde as relações a cada dia se tornam cada vez mais virtuais, Nossos Ossos é um grito poético e visceral do ser humano que clama por vida real.”, comenta Kleber Montanheiro.

Tendo como cenário o submundo da noite de São Paulo, “Nossos Ossos” é uma fábula visceral sobre a proximidade entre o amor e a morte: cada capítulo é associado a uma parte do esqueleto humano. O protagonista é Heleno, dramaturgo que resgata no necrotério o corpo de um michê e se impõe a missão de levá-lo até Poço do Boi, em Pernambuco. Durante os preparativos para a estranha aventura, ele relembra a própria história, da infância mirrada e pobre no sertão ao sucesso na metrópole paulistana. Na prosa poética de Marcelino Freire, uma fábula macabra sobre a proximidade entre amor e morte.

Idealizada por Kleber Montanheiro, a cenografia partiu da ideia dos ossos, do esqueleto: possibilidades de estruturas que venham a ser a metrópole paulistana ou o sertão nordestino. Que os olhos entendam como prédios, casas ou choupanas, galhos secos. Como um raio x que mostra o que sustenta. No entorno, cabines de voyeurs que são o público, isolados, pertencentes à ação dramática; no centro, a história a ser contada.

Assinados por Marcos Valadão, os figurinos partiram, como pesquisa inicial, de desenhos que traziam as referências do nordeste brasileiro como esqueletos, sobreposições de formas e volumes. O figurinista fez o caminho que será percorrido em toda a pesquisa estética de Nossos Ossos: a metrópole paulistana em fricção contínua com o nordeste brasileiro.

Assinada por Gabriele Souza ressalta a ideia de tempo e espaço: as cores remetem ao sertão nordestino em temperaturas quentes e ao mesmo tempo exibem a cenografia, de forma a transportar o espectador para os ambientes internos e externos.A temperatura mais fria e a utilização de sombras, com a projeção de luminosidade sobre as estruturas, trazem o ambiente soturno e gélido da cidade de São Paulo.

A música é utilizada como texto cantado, em comum acordo ao texto falado, com composições inéditas da artista Isabela Moraes, especialmente para o espetáculo. Isabela Moraes é um expoente da música brasileira nesse momento. Nascida em Caruaru (PE) em agosto de 1980, é cantora e compositora que se dedica profissionalmente à música desde os 18 anos. Isabela vem sobressaindo na atual cena pernambucana nos últimos tempos. A ponto de ter chamado a atenção da gravadora carioca Deck, com a qual assinou contrato para debutar no mercado fonográfico, após ter músicas gravadas por cantores como o conterrâneo Almério e a paulistana Mariana Aydar. Sucessor de Agora ou Nunca Mais e Bandeira em Marte, discos de reduzida distribuição regional, o terceiro álbum da cantora foi gravado em 2019 no estúdio carioca Tambor com com a adesão de Marcelo Jeneci. 

Marcelino Freire (1967), escritor brasileiro pernambucano radicado em São Paulo, publicou obras de extrema importância para nossa história: “Angu de Sangue” (2000), “BaléRalé” (2003), “Contos Negreiros” (2005) – Prêmio Jabuti de Literatura, em 2006 -, “Rasif – Mar que Arrebenta” (2008) e “Amar é Crime” (2010). “Nossos Ossos” (2013), é o primeiro romance do autor. A obra chegou a países como a Argentina e França e ganhou o Prêmio Machado de Assis 2014 de Melhor Romance. 

ELENCO

Demian Pinto
Edu Rosa
Evas Carretero
João Victor Silva
Leandra Gitana
Vitor Vieira

CRIATIVOS

Do romance de Marcelino Freire
Adaptação: Daniel Veiga
Direção e cenografia: Kleber Montanheiro
Figurinos: Marcos Valadão
Desenho de luz: Gabriele Souza
Direção Musical e arranjos: Marco França
Músicas Originais: Isabela Moraes
Assistente de Direção: Gabriella Britto
Costureira: Salomé Abdala
Máscara: Franklin Almeida
Direção de Cenotecnia: Evas Carretero
Serralheiro: Airton Lemos
Assistente de Cenografia: Thais Boneville
Microfonista: Eder Sousa
Operação de Som: Gabriel Hernandes
Fotos: Cleber Correa
Visagismo: Louise Helène
Produção: MoviCena Produções (Jota Rafaelli)

TEMPORADA: De 08 de setembro a 01 de outubro de 2023
LOCAL: Espaço Cia da Revista – Alameda Nothmann, 1135, Campos Elíseos | Capacidade 82 lugares
DIAS e HORÁRIOS: Sex e Sáb às 21h | Dom às 20h
DURAÇÃO: 75 minutos
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
INSTAGRAM: @ciadarevista

INGRESSOS: sympla.com.br
VENDAS (on-line):

Sex, Sáb e Dom: R$ 70 (inteira) + R$ 7 (taxa) | R$ 35 (meia-entrada) + R$ 3,50 (taxa) | R$ 100 (Ingresso APOIO) + R$ 10 (taxa)*
*Para essa temporada terá o ingresso que garante assistir ao espetáculo e ajudar o Espaço Cia da Revista

Deixe um comentário